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Crianças distraídas: déficit de atenção ou distúrbio auditivo?

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Transtorno que afeta a capacidade de entendimento dos sons pode prejudicar o aprendizado na escola

Por Assessoria

Foto: Reprodução

Os sintomas são parecidos: dificuldade de concentração, desinteresse, esquecimento, hiperatividade, baixo rendimento escolar e, muitas vezes, isolamento social. Muitas crianças são assim, o que pode levar a diagnósticos como o de Dislexia ou de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O que muitos pais não sabem é que esses sintomas também podem ser consequência de um tipo de distúrbio relacionado à audição.

Trata-se da Desordem do Processamento Auditivo Central — DPAC –, que afeta a capacidade de compreensão dos sons e pode prejudicar o desenvolvimento intelectual desde a infância. A criança ouve normalmente, mas não consegue interpretar o que ouve. É como se as palavras e demais sons fossem apenas ruídos.

“A criança ou adolescente com DPAC não consegue discriminar os sons quanto à sua localização e amplitude e não reconhece ou não compreende o significado de cada ruído presente no ambiente. Com isso, o mundo se transforma em uma incômoda confusão de barulhos desconexos e embaralhados”, explica a fonoaudióloga Rafaella Cardoso, especialista em Audiologia na Telex Soluções Auditivas.

De acordo com os neurologistas, todo o esforço que é feito por quem tem o distúrbio, para entender o que acontece ao redor, é demasiado para o cérebro. Chega uma hora que ele não resiste e “desliga”. Por isso, pessoas com DPAC são sempre muito distraídas e perdem rapidamente o foco de atenção sobre o que está acontecendo no ambiente.

A fala e a leitura também são prejudicadas porque o processo de linguagem se desenvolve simultaneamente ao processo da audição. Deste modo, a criança pode ter dificuldades para aprender a falar e a ler, já que é necessário associar as palavras ao som que elas têm.

“Em condições normais, localizar o som é entender de onde ele vem, sua direção e distância; é perceber o que é o badalar do sino da igreja, a buzina de um carro. Logo, ter uma boa audição nem sempre é o suficiente para compreender os sons”, explica a especialista.

O diagnóstico é dado geralmente na fase de alfabetização da criança, uma vez que é nessa fase que o aluno começa a apresentar dificuldade de memória de curto prazo, falta de entendimento, pouca concentração e incapacidade de leitura e escrita. O que acontece é que ele ouve com clareza a voz do professor, mas tem dificuldade em entender a fala; ou mesmo interpretar textos e compreender o enunciado de problemas, atropelando as palavras. A boa notícia é que o problema pode ser contornado.

“É de extrema importância que o diagnóstico correto seja feito o quanto antes para que as dificuldades no aprendizado sejam superadas mais facilmente. O cérebro humano tem, principalmente durante a infância, grande flexibilidade. Com o tratamento fonoaudiológico e o apoio de uma equipe pedagógica adequada, desde cedo, a criança tem grandes chances de obter um ótimo desempenho escolar, pois seu cérebro estará sendo treinado a desenvolver mecanismos diferentes e rotas alternativas para driblar o distúrbio”, esclarece a fonoaudióloga da Telex.

Não se sabe ao certo como a DPAC surge, mas acredita-se que a falta de estímulos sonoros durante a infância seja uma das causas. As estruturas do cérebro que interpretam e hierarquizam os sons se desenvolvem até os 13 anos. Até essa idade, as notas musicais, as palavras e os barulhos do dia a dia vão lentamente ensinando o cérebro a lidar com a audição.

Alguns pesquisadores destacam que crianças com lesões ou inflamações frequentes no ouvido médio podem desenvolver o transtorno, uma vez que tais enfermidades impedem o cérebro de receber adequadamente estímulos sonoros. Doenças neurodegenerativas, rubéola, sífilis e toxoplasmose e até mesmo alcoolismo e dependência química materna podem causar o distúrbio. Mas nada ainda foi comprovado cientificamente.

O diagnóstico da Desordem do Processamento Auditivo Central é consolidado por um fonoaudiólogo por meio de testes especiais que descartam outros problemas.

“Na maior parte dos casos, o sistema auditivo periférico (tímpano, ossículos, cóclea e nervo auditivo) está totalmente preservado. Por isso, são realizados procedimentos um pouco mais elaborados do que as análises audiométricas comuns. É preciso avaliar o desenvolvimento linguístico e o comportamento auditivo, por exemplo. A idade mínima adequada para efetuar tal estudo é a partir dos sete anos de idade. Os exames apontarão em quais habilidades auditivas a criança tem maior dificuldade e isso servirá de orientação para a escolha do plano de tratamento no que diz respeito ao treinamento auditivo que o fonoaudiólogo conduzirá com a criança, em um trabalho terapêutico de médio a longo prazo”, finaliza Rafaella Cardoso.

Dicas para pais e professores de crianças com DPAC:

– Ambientes barulhentos prejudicam ainda mais a concentração das crianças com DPAC; por isso é preciso manter o silêncio na hora do estudo, tanto na escola quanto em casa;

– É preciso falar de forma clara, pausada, de preferência bem de perto e de frente para a criança;

– É aconselhável que, na escola, a criança esteja sentada o mais perto possível do professor e fique afastada de portas e janelas para se proteger do barulho;

– A criança deve ser incentivada pelos pais e professores no esforço de aprendizagem, a fim de melhorar nos estudos e aumentar a sua autoestima.

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