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Chefão de facção em RO corrompeu PMs e PRFs; entenda como funcionava esquema que levou PF a cumprir mandado em Vilhena

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Investigados em operação da Polícia Federal (PF) contra o tráfico de drogas, os policiais rodoviários federais (PRFs) Diego D.  (vulgo Robocop) e Raphael A. cobravam até R$ 2 mil por quilo de cocaína para fazer o transporte da droga pro Comando Vermelho (CV). A informação consta em diálogos que foram interceptados pela PF e cujo teor foi obtido pelo site Metrópoles.

Há casos em que os agentes levaram mais de meia tonelada de entorpecentes, o que poderia render até R$ 1 milhão.

Diego, Raphael e outros três policiais militares foram alvos da Operação Puritas, deflagrada 10 dias atrás pela Polícia Federal, que chegou a cumprir um dos mandados judiciais em Vilhena. De acordo com as investigações, os agentes eram responsáveis pelo transporte de toneladas de drogas destinadas principalmente ao CV no Estado do Ceará. O grupo criminoso poderá responder por tráfico interestadual de drogas, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

Os policiais obedeciam aos comandos do traficante José H. S., conhecido como Léo, e apontado pela PF como mentor intelectual, coordenador e líder da organização criminosa sediada em Porto Velho, Rondônia.

Além do transporte de centenas de quilos de cocaína, os agentes de segurança pública tinham outras funções na organização criminosa: contrainteligência e direcionar flagrantes contra quadrilhas rivais. Eles usavam informações “sensíveis” e “sigilosas” para beneficiar o grupo criminoso, como saber quando e onde ocorreriam “blitze” e operações, bem como apontar rotas alternativas.

Em contrapartida, Heliomar fornecia informações aos agentes da PRF sobre a atividade do tráfico de drogas na região, de modo que eles fizessem flagrantes contra traficantes que concorriam com o grupo criminoso.

Com isso, os agentes de segurança pública passavam a imagem para as instituições de serem profissionais exitosos. Mas, o que PF descobriu é, na verdade, um antro de corrupção e lavagem de dinheiro.

Parte das drogas apreendidas pelos policiais também era repassada para Heliomar, que chegava a ficar, em alguns casos, com 30% da mercadoria. Esse modus operandi, segundo a PF, fez a organização criminosa “crescer muito rápido”.

As investigações apontam que Heliomar lavava o dinheiro do tráfico mantendo um mercado, uma locadora de carros e uma transportadora em Porto Velho.

As conversas dos PRFs com Heliomar tiveram início em dezembro de 2021, quando o traficante fez a primeira negociação com os agentes de segurança pública para transportar as drogas.

A quebra do sigiloso telefônico e telemático dos investigados apontou conversas entre os agentes da PRF negociando o valor do “serviço” e elaborando estratégias para não serem pegos transportando a droga nas rodovias do país.

Diego e Raphael até alugavam carros para transportar os entorpecentes. Ambos realizavam consultas em sistemas informatizados da PRF para que outros membros da quadrilha evitassem fiscalizações nas rodovias.

Em uma das conversas por WhatsApp, ocorrida entre os dias 17 e 19 de dezembro de 2021, os dois PRFs consideram “baixo” o valor de R$ 35 mil para transportar 70 quilos de cocaína. Para eles, o mínimo teria que ser R$ 1,5 mil por quilo da droga, ou seja, R$ 105 mil.

Por ser véspera de Natal, eles falam sobre adiar a entrega para janeiro e afirmam que “toda semana aparece oportunidade”. No dia 18 de dezembro, Raphael diz para Diego que Heliomar “está apertando” para que eles façam o frete mesmo assim, porque isso “abriria portas” aos dois.

Raphael chegou a ser preso em flagrante em julho de 2023 transportando 542 kg de cocaína em Canarana (MT), a 823 quilômetros de Cuiabá. Na ocasião, ele capotou a caminhonete que pilotava com as drogas, tentou empreender fuga em um táxi, mas foi rendido.

Naquele tempo, Raphael já era investigado por tráfico de drogas e trabalhava lotado na unidade da PRF em Natal, no Rio Grande do Norte. No curso das investigações, a PF identificou que ele recebeu um Jeep Compass como forma de pagamento pelo transporte de drogas.

Em relação a Diego, ele está atualmente lotado na PRF da Bahia, mas já trabalhou na cidade de Guajará-Mirim, em Rondônia, na fronteira com a Bolívia.

Diego foi preso no último dia 7 no âmbito da Operação Puritas. A Polícia Federal apreendeu na casa dele, em Feira de Santana, um cofre com R$ 580 mil e US$ 8,1 mil de dinheiro em espécie.

A Polícia Federal identificou que os agentes da PRF alugavam carros para despistar a polícia. Casos eles utilizassem o mesmo veículo para transportar drogas várias vezes, o sistema de inteligência da instituição acusaria a frequência do automóvel.

A partir da quebra de sigilo bancário, de notas fiscais e de metadados de GPS dos aparelhos celulares dos suspeitos, a PF conseguiu traçar o caminho da droga.

• Raphael: alugou sete veículos em menos de dois anos;

• Diego: registros indicam que ele alugou veículos em 16 situações em dois anos, tendo emprestado o carro locado para Heliomar.

“É importante ressaltar que PRFs têm conhecimento sobre o uso de carros alugados por traficantes para o transporte de drogas, o que levanta a possibilidade de Diego utilizar essa estratégia para evitar suspeitas e fiscalizações durante o transporte ilícito. Ou seja, por ele ser PRF, provavelmente os carros alugados em seu nome passariam fora do radar da fiscalização”, diz a PF no inquérito.

Os agentes da PRF Diego e Raphael não agiam sozinhos. A PF identificou que, ao menos, um policial militar da Bahia e outros dois de Rondônia também integravam a organização criminosa liderada por Heliomar.

Em 2023, dois PMs de Rondônia foram presos em flagrante no posto da PRF em Vilhena, transportando 500 kg de cocaína. Foram eles: o sargento Gedeon R. e o cabo Roberto P.

A PF identificou que, enquanto o cabo Aguiar dirigia a caminhonete transportando a droga, o sargento Gedeon era responsável por fazer o papel de batedor, ou seja, ele verificava a presença de policiais que pudessem parar o veículo carregado de drogas.

Na ocasião, a PF apreendeu uma pistola com o cabo Aguiar que estava registrada em nome de Heliomar. A partir dessas provas e da confissão dos dois policiais, a PF identificou a ligação dos agentes da segurança pública com o líder da organização criminosa, chegando, mais tarde, também aos policiais rodoviários federais.

Outra ocorrência, dessa vez em setembro de 2022, a PRF prendeu em flagrante no município de Icó (CE) o policial militar da Bahia Francisco A.. O agente transportava uma mala com R$ 689 mil de dinheiro em espécie e várias munições de fuzil.

Em depoimento à época, o policial militar disse que pegou a mala com Heliomar e que fez o transporte a pedido de um amigo, o PRF Diego. O PM alegou ainda que não sabia o que tinha dentro e que buscou a mala em Fortaleza.

• José, vulgo “Leo”, residente na cidade de Porto Velho (RO): atual líder da organização; atua na articulação da logística de transporte de entorpecentes.

• Roberto , o Cabo Aguiar da PMRO: motorista da organização criminosa. Atualmente encontra-se foragido.

• Gedeon, vulgo “G Rocha”, sargento da PMRO: atuava no transporte de drogas. Foi preso em flagrante por atuar como batedor no transporte de 500kg de cocaína em janeiro de 2023.

• Diego, vulgo “Robocop” ou “DDD”: agente da PRF atualmente lotado no estado da Bahia, entretanto já foi lotado na cidade de Guajará-Mirim. Diego atuava diretamente nos transportes de droga; alugava veículos; consultava sistemas da PRF.

• Raphael, agente da PRF: Foi preso transportando 542 kg de cocaína em Canarana (MT). Assim como Diego, ele também realizava a consulta em sistemas informatizados da PRF para que outros membros do grupo evitassem fiscalizações. Recebeu um Jeep Pass como forma de pagamento pelo transporte de drogas.

• Francisco, policial militar da Bahia: encontrou-se com Heliomar no dia anterior de sua prisão em flagrante por portar ilegalmente munições de fuzil. Na ocasião, Francisco transportava grande quantia em dinheiro, a qual atribuiu ao “amigo” PRF Diego e que teria sido recebida de indivíduo apelidado de “Leo” (Heliomar).

• Suziele: acompanharia os transportes realizados pelo grupo investigado, realizando, entre outras funções, a navegação nas rotas utilizadas pela organização. Ela acompanhava Raphael no dia em que os dois foram presos em Canarana. Ela também tem ligações com Heliomar, Diego (Robocop) e outros membros da organização criminosa.

• Rafael Dias Andrade da Cunha: primo do PRF Diego Dias Duarte, identificado como o contato “Adv” em celular apreendido com Suziele. Ele seria o batedor da droga apreendida com Suziele e o PRF Raphael Angelo em Canarana (MT).

• Emerson, vulgo “Cumpadre”: é um dos destinatários dos transportes organizados por Heliomar. Foi um dos financiadores da compra do veículo Jeep Compas utilizado como pagamento ao PRF Raphael.

• Lucas, o “Don Príncipe”: se autodeclara como membro do Comando Vermelho (CV), desempenhando um papel central na organização criminosa no Ceará. Além de ser um dos destinatários da droga, é também encarregado de coordenar os membros locais responsáveis pela logística e pelos pagamentos relacionados ao tráfico de entorpecentes.

• Thiago, vulgo “Don Oscar”: principal contato de Lucas no núcleo da organização criminosa em Fortaleza (CE), sendo responsável pela parte financeira do grupo.

• Thiago, vulgo “Babu”: citado recorrentemente em conversa de Don Príncipe com Heliomar, tendo realizado deslocamentos suspeitos, segundo as investigações.

• Matheus: responsável pela parte financeira da organização criminosa que lida com os pagamentos e depósitos bancários. Ele trabalha sob ordens de Don Príncipe.

• Rafael: membro operacional responsável pela logística no estado do Ceará. Se deslocou a mando de “Don Príncipe” e foi responsável por um encontro em Jijoca de Jericoacoara (CE) possivelmente para receber entorpecentes de Diego, que estava acompanhado de Suziele.

• Lucas, vulgo “Boleta”, executa papel similar ao de Matheus, que é seu irmão, atuando sob as ordens de Don Príncipe.

Fonte: newsrondonia

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