A recuperação física de uma gestação indesejada em um corpo infantil é possível, mas envolve grandes desafios e riscos, aponta Mariana Prado, médica ginecologista e obstetra. Na quarta-feira (18), o g1 revelou o caso de uma menina de 11 anos que deu à luz após ter sido estuprada pelo companheiro da avó. Foi a criança quem revelou o abuso.
Além do estupro sofrido pela criança, ela é culpada por familiares de ser culpada pela situação.
“Eu converso bastante com ela. Estou ensinando as coisas. Depois do acontecido, a gente deu muito apoio a ela para que ela não se sinta mal. Já basta a avó dela acusando ela em todo canto que chega. Ele sempre foi uma pessoa que passou confiança. Ficava difícil desconfiar”, disse a mãe da criança abusada.
O g1 conversou com Mariana Prado para entender quais riscos a menina de 11 anos enfrentou e pode enfrentar após a gravidez prematura. A bebê nasceu no dia 13 de setembro.
“O corpo de uma criança ainda está em desenvolvimento, o que pode dificultar o processo de recuperação total, tanto fisicamente quanto emocionalmente.”, disse a médica.
Ainda de acordo com a especialista, biologicamente uma gravidez é possível assim que a ovulação começa, o que geralmente ocorre após a menarca (primeira menstruação), que pode acontecer em algumas meninas a partir dos 8 ou 9 anos – dependendo do início da puberdade.
Imediatamente após a menarca, o útero, ovários e outros órgãos reprodutivos ainda podem estar em processo de crescimento e maturação. Embora a ovulação já ocorra, o sistema reprodutivo continua se ajustando e amadurecendo.
“Uma prova disso é que meninas recém menstruantes lidam com irregularidade do ciclo, justamente pelo ajuste hormonal que acontece até os primeiros 5 anos após a primeira menstruação. O mesmo acontece com a estrutura corporal, com mudanças na massa muscular, gordura corporal e estrutura óssea.”
Ainda conforme Mariana, a maturidade emocional e psicológica também não está completa logo após a menarca. Assim, as mudanças também estão a nível psíquico.
Algumas complicações que crianças e adolescentes podem enfrentar após uma gravidez indesejada são:
Após o parto, o útero normalmente se contrai e volta ao seu tamanho original. No entanto, em um corpo infantil, esse processo pode ser mais lento e complicado devido à imaturidade dos órgãos reprodutivos. A recuperação completa do sistema reprodutivo pode levar mais tempo e envolve risco aumentado de sangramento pós-parto e até perda uterina.
Processo cicatricial de cesarianas e partos vaginais complicados: muitas vezes, uma cesariana é necessária em meninas muito jovens devido à falta de desenvolvimento do canal de parto. A recuperação de uma cesariana exige repouso, cuidados médicos adequados e acompanhamento, e cicatrizes físicas podem permanecer. Mesmo em um parto vaginal, o corpo infantil pode sofrer lacerações que levam tempo para cicatrizar.
Recuperação óssea e muscular: o corpo infantil ainda está em crescimento, e uma gravidez pode causar uma sobrecarga no desenvolvimento ósseo e muscular. Em alguns casos, podem ocorrer complicações como problemas na coluna e na pelve, que podem afetar o desenvolvimento físico a longo prazo.
Impacto nutricional (desnutrição), problemas hormonais e desenvolvimento psicológico interrompido.
“Infelizmente, muitos casos de abuso infantil ocorrem dentro de casa, perpetrados por familiares ou pessoas próximas. Evitar esses casos é um grande desafio, mas existem várias estratégias e medidas preventivas que podem ser tomadas para proteger as crianças. A prevenção do abuso sexual infantil requer educação, conscientização, sistemas de apoio e ações diretas para criar ambientes mais seguros.”, pontuou Mariana Prado.
Fonte: Gabriela Feitosa, g1CE