Variante teria acumulado muitas mutações numa proteína específica, levando a cepa à “autodestruição”
Pesquisadores do Japão defendem que uma mutação negativa da variante Delta (B.1.671.2) do coronavírus SARS-CoV-2 foi responsável pela extinção — ou pelo declínio — da cepa em todo o país. Isto porque os japoneses enfrentavam a quinta e maior onda da Covid-19, quando os casos inexplicavelmente diminuíram. No entanto, explicação não é consenso entre os cientistas.
Em julho deste ano, o Japão registrava os piores índices de Covid-19, contabilizando mais de 26 mil casos diários da infecção. A alta de diagnósticos estava associada à variante Delta. Passados três meses, a média móvel atual de infecções é inferior a 200.
As autoridades locais têm dificuldade em explicar o que levou à queda, enquanto outros países ainda passam por uma alta de casos da doença ou por um pico elevado. Para uma parcela de cientistas, o fato de o Japão ter uma das maiores taxas de vacinação do mundo é a principal justificativa.
Até esta terça-feira (30), 77,22% da população estava com o esquema vacinal completo, ou seja, recebeu as duas doses ou um imunizante de dose única. Isso equivale a 97,3 milhões de pessoas protegidas, segundo dados da plataforma Our World in Data.
Vale lembrar: estudos indicam que a taxa mínima para controlar a transmissão é de 75%, como o feito em Serrana com a vacina CoronaVac. A pesquisa foi liderada por cientistas do Instituto Butantan. No entanto, um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Genética defende que a queda de casos está associada ao fato de a variante Delta ter “mutado até a extinção”.
Como aconteceu a extinção da Delta no Japão?
De acordo com a teoria revolucionária, a variante Delta acumulou muitas mutações numa proteína específica, a nsp14. Isto pode ter levado a cepa à “autodestruição” no Japão, conforme explica o professor do Instituto Nacional de Genética, Ituro Inoue.
A descoberta ocorreu quando a equipe examinava amostras do vírus. Nesse momento, os cientistas observaram que a maioria dos vírus apresentava mutações na nsp14, mais especificamente no local A394V. Neste local, estava a explicação para a queda de casos no país.
“A variante Delta no Japão era altamente transmissível e mantinha outras variantes de fora. Mas, à medida que as mutações se acumulavam, acreditamos que ele acabou se tornando um vírus defeituoso e não foi capaz de fazer cópias de si mesmo. Considerando que os casos não têm aumentado, pensamos que em algum momento durante tais mutações ele se encaminhou direto para a extinção natural”, defende Inoue.
Por enquanto, as descobertas sobre a possível autoextinção da variante Delta não foram publicadas em nenhuma revista científica e nem passaram por revisão de pares. A equipe espera compartilhar os resultados nos próximos dias.
Fonte: Canaltech