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Projeto Abraço do TJ/RO trabalha na recuperação de condenados pelo crime de violência doméstica

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Desde 2009, o Projeto Abraço, desenvolvido pelo Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ-RO) , atende homens condenados pelo crime de violência doméstica. Ao todo, o projeto já recebeu mais de 3.100 homens.

Segundo o especialista do projeto, as emoções como medo, dor e empatia, muitas vezes sufocadas a partir de uma cobrança social, reflete no aumento da violência familiar.

A entrada de homens no projeto começa quando ele recebe a condenação e a pena é convertida na participação das reuniões do projeto. Caso o juiz julgue necessário, dependendo da individualidade do crime, ele participará do Abraço em conjunto com outra penalidade.

Abraço

A chefe do Núcleo Psicossocial do TJ-RO, Aline Rodrigues Moreira Dantas, explica que o homem, antes de começar a participar dos grupos de reunião, passa por uma entrevista em que são analisadas as circunstâncias de seu ingresso.

Segundo a psicóloga, a primeira impressão do homem ao chegar no projeto é de que ele será infantilizado e colocado como quem recebe uma bronca. No entanto, a dinâmica e objetivo do projeto leva a questão da conscientização do papel dele dentro de seus relacionamentos.

“A cultura do machismo está impregnada a questão da dominação. Ele espera receber um tratamento onde será infantilizado, em que vamos brigar com ele, quando na verdade, o discurso é trazer a responsabilização. Aqui eles são chamados a refletir sobre os conflitos familiares”, explicou.

Masculinidade Frágil

O psicólogo e responsável pela condução dos grupos, Cristiano de Paula, ressalta que a maior dificuldade enfrentada pelos participantes, é se ver como agentes de sentimentos que a sociedade coloca com exclusivos do sexo feminino, entre eles a dor, o amor, sofrimento.

“A nossa sociedade preza muito, infelizmente, por uma cultura machista, muito patriarcal e isso prejudica muito os relacionamento. A ideia em torno da participação dos grupos é de auxiliar esse homens a repensar o seu papel como homem em um relacionamento que também é um papel de cuidado e proteção. Mostrar que eles também podem sofrer, chorar e se sentir incomodado por determinada questões, mas principalmente, pode desenvolver uma comunicação mais assertiva, empática e ensiná-los a se posicionar diante dos seus próprios sentimentos e emoções“, explicou.

Muitos desses homens relacionam a mulher ora a uma mãe, ora a uma concorrente, com o intuito de competição com base na disputa de poder. A meta do projeto é fazer com que esse homem entenda de que, no relacionamento, ele é um agente de contribuição.

Pandemia

Após um anos de oito meses suspenso, devido a pandemia da Covid-19, o Projeto Abraço voltou a atender. Antes, o projeto era formado por quatro grupos com 40 participantes cada, mas, para evitar a proliferação da Covid-19 e seguindo as normas da Organização Nacional de Saúde (OMS), os grupos sofreram a redução de 50% dos participantes.

Com a volta do projeto e em uma nova fase da pandemia, a psicóloga Alines Dantas reconhece que agora, a realidade do projeto é outra.

“O projeto sempre teve desde a escolha do nome “Abraço”, o objetivo de acolhimento. Então neste momento inicial, estamos acolhendo esse homem que tem retornado, pois eles já estavam conosco antes da pandemia. Agora eles chegam trazendo muita histórias, entre perdas familiares, emprego, convivência forçada por um vírus. Isso repercutiu nas relações dentro de casa. Situações desafiadoras sempre encontraremos e a resposta está em como iremos reagir a elas”.

Comissão mista

Homens e mulheres estão a frente do Projeto diretamente com os participantes. A psicóloga destaca a importância da heterogeneidade no trabalho.

“A princípio, alguns homens tendem a se sentir mais a vontade se um outro homem chegar atendendo e com o tempo, isso vai sendo quebrado e eles vão se percebendo acolhido também por uma mulher e vão mudado um pouco a forma como se enxergam em relação a uma mulher”.

Em cada reunião, de um total de 10, são abordados temas que a comissão, a partir da vivência com os participantes, destacou como características comuns vividas por eles dentro de suas relações.

Além dos membros dos Núcleo Psicossocial do TJ-RO, também fazem parte dessa linha de frente apoiadores do projeto. Como é o caso de um membro do Alcoólicos Anônimos (AA).

O projeto também recebe as mulheres, mas de forma voluntária. Desde sua criação, já foram atendidas mais de 900. Quanto a reincidência, foi apontada que antes do projeto Abraço cerca de 43% dos homens voltavam às praticas de agressão, depois da condenação e das reuniões, em um levamento feito pelo TJ-RO, a média da reincidência foi de 10%.

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