O corpo de Lenilda dos Santos, a brasileira achada morta no deserto há 11 dias quando tentava entrar ilegalmente nos Estados Unidos (EUA), ainda não foi liberado para ser enviado ao Brasil. Segundo a família, a expectativa é que a autorização e o translado ocorra apenas nas próximas semanas.
Em uma entrevista ao Fantástico, exibida na noite deste domingo (26), a filha de Lenilda contou que o corpo da mãe foi achado a 400 metros de uma casa trailer, indicando que brasileira tentou pedir ajuda a alguém em seus últimos momentos de esperança e vida.
“Ela lutou até o fim. Eu acordo eu não consigo fazer um café, não consigo limpar uma casa, não consigo fazer nada. Porque a gente tá tendo um velório sem corpo”, desabafou Genifer Oliveira, uma das filhas de Lenilda, durante entrevista ao Fantástico.
Ainda segundo Genifer, a chegada do corpo inicia uma nova etapa para os familiares que sofrem com a perda de Lenilda há 11 dias, após receberem a notícia de que a técnica de enfermagem foi abandonada no deserto pelos amigos de infância com quem viajava.
Todos os trabalhos para o translado estão sendo coordenados por uma empresa americana contratada pelos familiares e as despesas devem custar aproximadamente R$ 120 mil.
Em Rondônia, onde Lenilda morava, a família segue realizando uma vaquinha on-line para arrecadar a quantia e pede ajuda para trazer o corpo até a cidade de Ouro Preto do Oeste.
Isso porque a família também recebeu a informação de que a empresa só pode transportar o corpo do EUA até São Paulo (SP) e não a Rondônia.
Lenilda deve ser sepultada em Ouro Preto do Oeste, no mesmo cemitério onde está enterrado seu pai e avô. “É o pedido do meu pai, do meu avô, que toda família colasse junto dele”, conta o irmão.
‘Lutou até o último minuto’
Segundo a família, quando Lenilda foi encontrada ela já estava há nove dias abandonada no deserto. Familiares acreditam que ela morreu de sede, mas o laudo da perícia feita para identificar a causa da morte ainda não foi divulgado.
“Eu quero que o Brasil todo tenha essa imagem dela: uma pessoa que lutou até o último minuto”, diz a filha de Lenilda.
‘Ela deixou um buraco dentro de todo ser humano que conheceu ela’
Familiares e amigos descrevem Lenilda com as mesmas característica: muito empática, solidária e apaixonada pela profissão.
“Teve um sábado que nós estavamos com dois pacientes graves da Covid. Eu liguei pra ela e falei ‘amiga, eu não sei mais o que fazer, eu não consigo mais ficar em pé. Eu estou no meu limite e os pacientes precisam ir pra Porto Velho, pra UTI’. Ela me disse assim: ‘eu vou’ e falei ‘não sei se eles vão conseguir te pagar um extra’ e ela me disse ‘eu não vou deixar um paciente morrer por causa de dinheiro, eu vou’”, conta a amiga e parceira de profissão Lucineide da Silva.
Lenilda chegou a atuar na linha de frente de enfrentamento à Covid-19, o que preocupava muito a família. No entanto, apesar dos pedidos para pedir afastamento, ela permanecia disposta a ajudar.
“Ela dizia ‘não tem problema não, se eu tiver que morrer desse vírus eu vou morrer, mas agora que todo mundo precisa de mim eu vou abandonar? Eu não vou desistir porque eu estudei pra isso e eu quero salvar vidas’”, releva o irmão, Leci Pereira.
Apesar de amar a área da saúde, com o salário que recebia enquanto técnica de enfermagem, Lenilda não conseguia realizar os sonhos, como terminar de pagar a faculdade das filhas. A intenção dela era trabalhar por um tempo nos Estados Unidos e depois voltar para atuar na área da saúde.
“A minha irmã, só dela ir embora daqui ela já tava fazendo falta, agora imaginar que ela não vai voltar mais eu não consigo nem te explicar. Ela deixou um buraco dentro de todo ser humano que conheceu ela”, lamenta Leci.
Como morava em Vale do Paraíso, uma cidade pequena no interior de Rondônia, Lenilda era conhecida por quase todas as pessoas. Eles compartilham a sensação de que vivem um pesadelo com a forma que tudo aconteceu.
“Eu estava preparada pra minha mãe ficar presa 300 anos, menos pra ela ser encontrada desse jeito”, conta a filha.
Legado
Apesar da dor, a família de Lenilda prefere guardar as boas lembranças e os ensinamentos proporcionados nos 49 anos em que ela esteve presente na vida de cada um: ajudar o próximo e buscar a realização de sonhos.
“Ela morreu, mas não foi por dinheiro, foi por amor. Ela amava a família dela, ela morreu tentando algo melhor pelas filhas dela e ela foi uma guerreira. Então a família dela, as filhas dela, o objetivo dela era maior do que qualquer coisa”, conta Lucineide.
Fonte: G1